Pérfido Lusitano

quinta-feira, julho 22, 2004

Pérfido defunto

Já passaram quase 10 dias sobre o último "post" - e que "post", meu Deus... - e nada de útil se pôde ler por aqui. As mentes parecem estar paradas ou, talvez sendo mais preciso, de férias.

Seja como for, num "blog" que oscila entre a mais descabida e insultuosa pornografia e o deprimente mas preocupado debate político e social, parece ficar bem as palavras de um poeta que se encaixaria, por certo, no espírito deste espaço. Bocage viveu entre a rebaldaria sexual e jocosa do insulto e do deboche, mas também teve prolongados momentos de tristeza fúnebre e desilusão amorosa, à semelhança deste "blog" que parece carecer de mimos dos seus cronistas e leitores que o abandonaram à espera da negra senhora de foice.

Salvemo-nos, pois, com estes tristemente belos versos do poeta, com a esperança que, uma vez ressuscitado, este "blog" relembre também os poemas de Bocage mais galhofeiros, verdadeiros hinos à rambóia e ao regabofe!

Fiei-me nos sorrisos da ventura
em mimos feminis, como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
momentâneo relâmpago não dura:
 
No meio agora desta selva escura,
dentro deste penedo húmido e ouco,
pareço, até no tom lúgubre, e rouco
triste sombre a carpir na sepultura.
 
Que estância para mim tão própria é esta!
Causais-me um doce e fúnebre transporte,
Áridos matos, lôbrega floresta!
 
Ah! não me roubou tudo a negra sorte:
Inda tenho este abrigo, inda me resta
o pranto, a queixa, a solidão e a morte.