Pérfido Lusitano

sexta-feira, março 05, 2004

conversa de doidos

Já todos um dia falámos sozinhos não?
Bom talvez nem todos, uns mais loucos que outros.
Dou-me ao trabalho de escrever estas linhas, quem sabe para não ficar para aqui a falar com as paredes, até porque gatês não é ainda uma língua que eu tenha aprendido, nem com a insistência deste gato que bem se esforça em fazer-se entender. Entendo apenas pelos seus miaus, que há falta de comida na taça ou que da sua liberdade, se vê o mesmo privado. Subentendo ainda, que o animal se limita a comunicar por não conseguir efectuar tarefas como o simples preparo da sua refeição ou como o simples abrir de uma janela. Caso isso viesse a acontecer também ele terminaria a sua comunicação verbal limitando-se apenas ao sonoro ronron, substituindo um obrigado aquando do momento das festas no pêlo.
Se o gato como nós se limita a expressar uma onomatopeia quando está feliz, pergunto eu, para quê falar? Andaremos todos infelizes?
Para quê perder tempo verbalizar palavras? Poderíamos todos viver momentos de puro prazer como o gato. Retiramos todos daqui uma conclusão, neste momento eu não estou a viver um momento desses. Como naquele anúncio, cuja marca não me lembro ( ou será não lembro-me?), em que a sra. se encontra sentada num banco de jardim sem que nada ou ninguém a afecte, limita-se a mesma a proferir um hum!! aqui e outro mais adiante, isto tudo em escassos segundos, nos quais a mensagem, compre este iogurte, que vai ter imenso prazer, nos é transmitida sem que ninguém nos diga nada.
Se estivermos a falar de sexo, em principio não estaremos a fazê-lo, mais um indício de que falar poderá não ser a melhor opção. Ainda hoje em conversa com o meu amigo Pedro, constatámos que até no próprio acto, falar poderá não ser propriamente sinónimo de prazer. De notar que mesmo quando se proferem palavras nesse contexto, a linguagem acaba por adquirir uma vida muito própria, chegando mesmo a não ser minimamente entendida fora do ritual, ou até mesmo nalguns casos, aceite.
Pior que isso será a verbalização de certas palavras de forma a manifestar este ou aquele sentimento (há quem chegue mesmo a acreditar nelas).
No ar paira a dúvida, será mesmo uma simples onomatopeia reflexo de puro prazer? Vejamos que mesmo a dita do anúncio, não está nem ai para os iogurtes, até porque deve ter comido uns quantos, até a cena ficar pronta.
Limitemo-nos todos a falar quando realmente temos alguma coisa a dizer, de preferência passemos todos então a onomatopeisar (será que isto existe? Lá vem o tal do karamba.).
Hum! não sei se isto fará algum sentido, mas enfim eu devo ser mesmo louco, fica explicado, nos diálogos que tento manter com o gato, ou ainda pelo facto de escrever sozinho, fazendo perguntas (diz que são de retórica) para em seguida as responder. Isto é escrever sozinho, à moda do nosso professor (o dos livros, da TVi, sabem qual é, não?).
Isto ainda vai provocar zumzum!
Concluir esta peça, é perguntar, e esta hã?