Pérfido Lusitano

quinta-feira, março 25, 2004

“Private joke” para o povo do Macau 5 C e arredores...

Não sentem saudades da amistosa e agradável companhia das nossas amigas brasileiras? Não era confortante saber que as raparigas do outro lado do Atlântico tinham uma vidinha certa e ordeira? Saíam às onze da noite, vinha uma carrinha buscá-las – como uma qualquer carrinha de um matadouro vai buscar vaquinhas às herdades… –, elas lá iam, e depois regressavam às três da manhã, muito silenciosamente.

Toda a gente sabia o que faziam – havia praticamente certezas – e admitamos que era muito melhor saber isso, do que não saber como se sustenta uma casa…

De resto, essas nossas amigas, irmãs de língua, eram calmas em praticamente tudo. Exceptuando uma ou outra confusão com um amigo qualquer que vinha cá de vez em quando “mudar o óleo”, e alguns gemidos de prazer que por vezes se ouviam pelos indiscretos respiradouros dos WCs, nada! Uma pacatez de apreciar, especialmente espantosa nas gentes descobertas por Cabral.

Só chateava o facto de haver um “amigo” delas que tinha a mania que o terreno em volta deste edifício era um parque público. Esse fulaninho teimava em estacionar o seu BMW em terreno privado e que não lhe pertencia, especialmente porque, pelo que me consta, ele nunca foi morador (efectivo) neste prédio. As suas visitas eram curtas, e quase sempre em posição horizontal – especulo eu.

E agora o que temos?!

Bem, agora temos uns vizinhos que não sabemos o que fazem na vida, muito menos como ganham dinheiro para sustentar a casinha. Se dantes toda a gente sabia que as brasileiras eram de “profissão duvidosa”, ou melhor, ninguém duvidava – toda a gente sabia qual era a profissão das mocinhas – agora não, é mistério. Barulho até às duas da manhã, e acordar sempre depois das 14 faz-me especular sobre que trabalho se conjuga com um “modus vivendi” destes.

Mas pior do que isso, é o facto de termos uns vizinhos que conseguem espantar um interessado do aparelho fonador, como é o meu caso. É que das duas, uma: ou os nossos novos amigos não falam entre si, antes gritam; ou então são surdos – mas, infelizmente, não mudos – e por isso mesmo vêm-se obrigados a falar muito alto.

Claro que falar alto às duas da tarde é uma coisa, falar – ainda hesito se diga falar ou gritar… – às duas da manhã é outra coisa completamente diferente. Para mim, é absolutamente misterioso como é que eu, que estou dois andares acima dos vizinhos em causa, consigo ouvir os fulanos a falar… Ah, e consigo ouvi-los claramente – palavrinha por palavrinha…

A juntar a este facto “decibélico” há um outro de semelhante natureza. Escusando-me a fazer comentários à selecção musical dos tipos – cada um ouve o que lhe apetece –, é de assinalar a altura a que a música é escutada – ou será gritada? Julgo ser esta a prova de que os tipos são mesmo surdos. É que só assim se explica que eu consiga estar a ouvir a musiquinha que suas excelências querem ouvir neste preciso momento, enquanto estou no sótão a escrever este desabafo.

Eminem, neste caso.

Deixa-me um pouco agastado o facto de o meu prato de almoço vibrar ao som da música que vem do vizinho… Agastado e meditativo. Quem é que consegue ouvir música – seja ela qual for – a esta altura, e durante tardes inteiras? Surdos, lá está… Os tipos que têm que sentir as vibrações da música para conseguirem apreciarem as melodias.

Conclusão, temos vizinhos surdos e – estes sim – de profissão duvidosa.

Ai que saudades das nossas amiguinhas de língua…