Pérfido Lusitano

domingo, março 07, 2004

Um estudo linguístico

Na continuação de importantes reflexões presentes neste muito pertinente “blog”, aqui se apresenta agora um estudo linguístico.

Trata-se de algumas palavrinhas que hoje em dia têm significados muito próprios, mas que, se recuarmos no tempo na demanda das suas raízes e radicais, encontramos curiosidades bem giras.

Por exemplo, lupanar – que, para quem não sabe, significa bordel – tem na sua formação dois radicais. São eles lupa- e a terminação –ar. A terminação sugere sentidos espaciais, ou seja, sem mais significa local (especialmente periférico). Aliás, é daqui que vem área. E lupa é uma forma latina que nada tem a ver com a nossa actual lupa de ampliar, mas sim com o lupus que depois deu lobo. Ou seja, à letra, lupanar significa local (periférico) onde estão as lobas. Parece-me uma óptima metáfora, tendo em conta o seu significado.

E que dizer da palavra imbecil? Hoje significa estúpido, mas em tempos significava outra coisa. Como? Ora bem, a palavra é formada por o prefixo im-, que transmite sempre uma ideia de ausência, ou contrariedade, juntamente com o radical –becil. Ora –becil é uma forma latina da palavra original baculi, que significa pau. Assim, um imbecil, à letra, significaria aquele que não tem pau. Sugiro que respondam convenientemente da próxima vez que vos chamarem imbecil…

E agora, mais uma viagem etimológica. Cemitério, por exemplo, é composto com cemi- e –tério. A terminação significa lugar, ou espaço confinado. Já cemi-, que em latim se leria “quémi”, é uma variação da palavra coma – não de comer, mas também não do estado clínico. É que coma, em latim, significava apenas descansar, ou dormir profundamente. Assim, à letra, cemitério é o espaço onde se dorme profundamente. Um belo eufemismo, diria eu.

Então e como explicar adultério? Bem, tem a mesma terminação, logo tem algo a ver com a noção de espaço. E o adul-? Bom, recentemente descobriu-se que no Indo-europeu, língua abstracta que se pressupõe estar na origem do latim e de muitas outras línguas europeias, para se exprimir a vontade ou a acção de comer se diria ul ou al. Daí vem o nosso alimentar. O –ul- de adultério é o mesmo que está na origem de alimentar – que nada tem a ver com o al- arábico, note-se! Assim sendo, e explicando que o ad- é um prefixo latino com vários significados, entre os quais o de estado ou destino, adultério, ipsis verbis, significaria espaço (ou fase) em que se vai comendo.
Parece-me muito bem. Os tipos sabiam ser subtis…
Ah, já agora, a palavra adolescente também está relacionada com estas. Ad- é o mesmo prefixo, o –ol- diz-se “ul” e o -scente é um étimo latino que significa aquele que sabe. Logo, adolescente é aquele que sabe comer, ou ir comendo.
Bem canibalescos, os antigos.

Uma nota para a palavra escola. Se hoje o seu significado rima com angústia, contrariedades e desatinos, na sua origem estão ideias bem mais interessantes. Escola vem do grego skholé que significa descanso, repouso, ócio, liberdade. Como é que chegámos a um sentido tão diferente? Pois bem, os romanos chamaram scola aos banhos, ou seja, ao sítios onde os tipos iam descansar, tomar uma banhoca e comer umas gajas. Acontece que, com o desenrolar dos tempos, os banhos tornaram-se o local onde os filhos dos romanos eram ensinados, e foi este o sentido que se manteve até aos nossos dias.
Eu preferia o original, mas enfim.

Por fim, algo que todo o homem deve saber:
Quando um tipo das obras diz para uma loiraça que lhe passa ao lado e de mini-saia: “ó boa, enfiava-te o pincel todo”, nem imagina que pénis e pincel têm, na verdade, a mesma origem e que a significação de ambas as palavras já foi idêntica. Pénis, ou pes (forma indo-europeia) era o termo usado para designar a cauda dos quadrúpedes. Ora, era dos pêlos das caudas destes animais que os antigos faziam pincéis. E que nome davam aos pincéis? Pois, nem é preciso dizer, pois não?
Posto isto, que dizer de um comentário porco do Sexy Hot do tipo: “Vou pintar-te a cara toda…” No mínimo, revela uma grande erudição, ou uma profunda e penetrante investigação etimológica.

Ou então não…

E assim, esta frase fará agora todo o sentido:

Num lupanar não convém ficar imbecil, muito menos fazer actividades próprias de um cemitério. Há que ser adolescente, pintar e limpar o pincel muito bem antes de recolher à nossa escola…

Que tal?