Pérfido Lusitano

sexta-feira, março 05, 2004

Direito de página

Nos termos da lei, o espaço que se segue é da exclusiva responsabilidade do interveniente.

“Caros colaboradores do Pérfido Lusitano

Pelos comentários e pelas mais recentes crónicas, sou levado a concluir que as minhas correcções estão a ser mal recebidas. Só posso ficar triste com essa atitude agressiva e, no fundo, preconceituosa.
Ainda que a acção de ser corrigido possa ser encarada com embaraço ou vergonha, tal não deve acontecer, especialmente por vós, fieis devotos desta causa que é a escrita, infelizmente, hoje em dia tão mal tratada e condenada quase ao caos.
Considero-vos a todos, sem excepção, excelentes contadores de histórias, ou pelo menos pensadores sobre o sentido da vida e do mundo. Os vossos textos, dignos relatos do vosso existir, críticas ao mundo que vos rodeia, ou mesmo só graçolas e chalaças, são, primeiramente, um esforço em prol da vossa expressão escrita e falada – porque quando se escreve, fala-se sempre para dentro – e, consequentemente, devem ser encarados como verdadeiras batalhas em defesa da nossa língua.

Toda e qualquer correcção que sugiro – e sugerir aqui é a palavra própria, uma vez que ninguém é penalizado pelo erro, muito menos tenho a presunção de exigir uma correcção – mais não é do que um incentivo à melhoria da vossa expressão, da nossa expressão, em última análise, da preservação da língua de todos nós. Por isso mesmo, peço-vos que interpretem as minhas sugestões não como uma prova de arrogância, nem como um sinal de desdém. Tal não é, absolutamente, o caso.

No entanto, acontece que todos nós, enquanto cronistas do Pérfido Lusitano e também nos textos que escrevemos no nosso quotidiano, estamos subjugados a um sistema fixo, rígido e normativo. A grafia, ao contrário da oralidade, tem regras estabelecidas e bem definidas. Aliás, para quem não sabe, aqui fica um esclarecimento: a ortografia e a metalinguagem estão legisladas, ou seja, os termos do português europeu estão consagrados e definidos pela lei. Por isso, se quisermos ser cegamente objectivos, quando se comete um erro ortográfico, infringe-se uma lei, a lei da ortografia portuguesa.

No entanto, a minha posição não é a de um advogado da lei portuguesa, mas sim a de um defensor da nossa língua, como já referi. E, uma vez que acredito que o português é feito por todos nós (falantes nativos) sem excepção, tomei como missão preservá-lo de defendê-lo de realizações anómalas, motivadas quer por desconhecimento, quer pela simples falta de atenção.

Em suma, cada correcção que sugiro deve ser entendida como uma chamada de atenção para um desvio que perturba a comunicação, por um lado, e que, por outro, agride a gramática portuguesa. Se na maior parte das vezes, os desvios que detecto serão causados por lapsos, estarei, no entanto, sempre disponível para esclarecer qualquer dúvida que as minhas sugestões possam fazer realçar – e até agradeço que mo peçam!

Se todos escrevermos melhor, conseguiremos atingir uma melhor expressão das nossas ideias, e elas serão melhor transmitidas e percebidas. Logo, comunicar com mais correcção é comunicar com maior eficácia, com maior precisão, numa palavra: melhor.

Esta é a minha luta.

Professor Karamba”