Pérfido Lusitano

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

O mundo natural no seu melhor...

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Sobre o Carnaval (2)

Ainda sobre essa bonita e festiva época que vivemos, convém relatar mais um fantástico acontecimento.

Estava eu a ver o Jornal da Tarde – que maravilha ouvir dizer “bintoito”, “dezouito” e “lídres” – quando mais uma excelente reportagem sobre o Carnaval chamou a minha atenção. Rita Marrafa de Carvalho – que para quem não sabe é uma tipa toda boa! – estava desta vez em Ovar e entrevistava mais um folião à portuguesa. A jornalista estava encafuada num valente casacão – qual alheira a querer transbordar da tripa! – e o entrevistado estava de T-shirt…

- Então conte lá, o que é que vamos poder ver no corso?
- Bem, vamos poder ver cor, animação, alegria, muita festa e divertimento…

(pergunta: como é que alguém pode ver animação? E alegria? Quem é essa gaja? E onde é que para o fulano que responde por divertimento. Já alguém viu estes tipos alguma vez? Será necessário informar este pessoal que nomes abstractos não são palpáveis e, por isso mesmo, não se vêem?!?! Aqui fica o meu reparo…)

- E não tem medo que a chuva e o frio estraguem a festa?
- Qual frio? Não está frio! E se Deus quiser não há-de chover…
- Mas olhe que a meteorologia prevê chuva para estes dias.
- …
- Para hoje e amanhã…
- Eu acredito que o povo de Ovar vai resistir à chuva e ao frio e vai sambar e festejar este Carnaval com muito calor.

(Ora bem, então depreende-se que o povo de Ovar vai munido de guarda-chuvas e sobretudos para o corso e que, mesmo com essas vestes, vai conseguir sambar. O calor vem depois, ou seja, depois de sambar de gabardines e casacões, e de estar a segurar os chapéus-de-chuva nas mãos. Isto parece-me óbvio. E o tipo tem realmente olho para a palavra…)

Mas, depois de mais algum paleio, cedo se percebeu qual era a grande atracção deste Carnaval. Muito mais do que carros alegóricos e gajas seminuas a dar ao cu – e, eventualmente, a dar também o cu – o que interessava o nosso folião era uma atracção fantástica: bater o recorde do Guiness do maior número de palhaços reunidos numa determinada e circunscrita área.

Nesta altura, o fulano entusiasmou-se, olhou a câmara de frente, entrou-nos dentro das salas e cozinhas onde temos os nossos televisores e fez um verdadeiro apelo à palhaçada:

- Ainda estão abertas as inscrições, pela net, ou nas juntas de freguesia do concelho, inscreva-se e venha bater o recorde do Guiness connosco.

O que se pode concluir daqui? Bom, primeiro que o número máximo de palhaços reunidos duma determinada área até hoje foi de oitocentos e tal. Pelo menos foi o que o simpático folião disse que consta no Guiness. Além disso, ficámos também a saber, como provou o entusiasmo do entrevistado, que o verdadeiro objectivo do nosso Carnaval é reunir um grande número de otários, perdão, de palhaços capazes de, à chuva e ao vento, mostrar “cor, animação, alegria, muita festa e divertimento” a quem quiser ou conseguir ver tais coisas.

Nestes Carnavais não me apanham. Mas, se quiserem, eu posso sugerir uns nomes para palhaços… Assim de repente, vêm-me logo à cabeça dois: Roberto Leal e Simara…
O meu leitor que sugira mais alguns. Faça a sua parte…

E, para rematar, uma conclusão muito triste: o que move o nosso país é… o Guiness. Sim, bater os recordes do Guiness é o objectivo último de qualquer português.

Lembram-se do Fairy na Ponte Vasco da Gama? Pronto, desde aí, o português ficou sempre a pensar que o Guiness dá sempre feijoada à transmontana nessas absurdas provas, e agora não pensa noutra coisa.

É triste viver num país em que tudo gira à volta de uma broa de milho que tem 400 metros – e lá vai o tuga comer a broa, ainda com esperança de mamar a feijoada do costume –, ou acerca de uma porrada de palhaços concentrados num dado espaço.

Aliás, penso que já batemos este recorde…

Sobre o Carnaval (1)

A propósito da festiva época em que nos encontramos, apraz-me expressar aqui, neste espaço de tertúlia e discussão, algumas reflexões.
Quero começar por dizer que estou muito contente com a chuvinha que tem caído. O beato Pedro ouviu as minhas maldosas preces e resolveu lixar os pseudo-foliões portugueses que para aí andam a espalhar a sua quase contagiante alegria. Chuvinha e frio, pois então! O sacana do santo resolveu fodê-los bem… Gosto do sentido de humor dos tipos lá do céu.
Mas, além das adversidades atmosféricas que, convém dizê-lo porque há muito português que parece não sabê-lo, são PRÓPRIAS DESTA ÉPOCA, houve algo que me atraiu a atenção numa reportagem da RTP1 feita ao encarregado das festas de um destes Carnavais que para aí andam.
Imaginem o seguinte cenário: a objectiva do repórter de imagem captava a simpática jornalista e o entrevistado, um tipo qualquer que se julga no quentinho de Brasil e que tem vontade de despir miúdas e lembrou-se da desculpa do Carnaval para o (tentar) fazer; atrás destas duas sórdidas personagens, quatro meninas, por volta dos 12 anos – há por aí muita malta que lhes chamava um figo, mas eu prefiro deixá-las crescer… – tentavam abanar o rabos e pernas na perspectiva de imitarem aquela mulata que viram ontem à noite na TV na reportagem sobre o Carnaval do Rio, onde há calor – nunca é demais destacar as evidentes diferenças térmicas entre Portugal e Brasil; as perguntas eram as óbvias: não está com frio? (o tipo estava de t-shirt!) Não tem medo que as pessoas não apareçam? Não receia que a chuva estrague a festa? Por esta altura, as miúdas cansaram-se de se abanar e começaram a cochichar qualquer coisa entre elas, sendo que já todas estavam de braços cruzados, denunciando evidente e justificável frio. Foi também nesta altura que o malandro do câmara-man afastou o plano e o foi dado ao espectador uma bonita visão de uma praça deserta, algumas palmeiras com as ramadas a chocalhar ao vento, e o entrevistado e as miúdas em cima de um carro (teoricamente) alegórico, com capas de plástico transparente e sem a mínima cor.
O indivíduo lá foi respondendo que o frio não o amedrontava, e que S. Pedro não iria estragar a festa. Além disso, o povo daquela localidade era muito quente e gostava de se divertir, e por isso mesmo não deixaria de ir sambar – essa dança tão portuguesa, ou então não… – para a rua.
Foi mais ou menos nesta altura que a jornalista perguntou a uma das meninas se ela gostava de estar ali e de participar naquele corso. Enquanto o indivíduo olhava para a menina questionada com um olhar algo repreensivo, a resposta da menina, articulada entre dentes e através de uns lábios que começavam a estar roxos de frio, foi um profundamente enigmático “Hum…”.
Impõe-se uma tradução. O que ela queria dizer era: “Eu queria mesmo era estar em casa, na net, a falar no ICQ com o Cá Jó, que é um granda borracho lá da escola, mas o meu pai não me deixa sair daqui…”
E agora a tradução do olhar do sórdido folião: “Tu vê lá o que é que vais dizer, Kátia Vanessa; tu não envergonhes o paizinho, se não o pai depois leva-te ao Sr. Padre e deixa-te lá estar um dia inteiro com ele na sacristia… Tu vê lá!”

E assim vai o mundo português, a copiar os hábitos estrangeiros – como sempre. Não percebo como é que nós conseguimos convencer meia dúzia de malucos a desfilar de t-shirt ou só mesmo tanga, nas geladas ruas de Ovar ou Sesimbra, convencidos de que sabemos sambar e de que está um calor do caraças!

Mais uma vez, importa reforçar esta advertência: calor no Carnaval é no Brasil e nos países que estão no hemisfério Sul, ok? Ah, e sambar é próprio dos brasileiros! Nós não sabemos sambar, assim como eles não sabem entrar nas auto-estradas em contra-mão, ter 5 gramas de álcool no sangue e conseguir ir a guiar para casa, e tantas outras coisas bem portuguesas.

Ah, e já agora, aqui há pouco tempo, num outro texto, avancei com uma ideia bem estupenda, pelo menos a meu ver: o Brasil dava-nos o Jô Soares, e nós dávamos a Simara e o Roberto Leal. Agora proponho: Jô Soares por Simara (igualdade de massa), Roberto Leal (seria o bónus!), e Alberto João Jardim (o nosso melhor folião e provavelmente o pior sambista da história).

Que tal?

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

o grande roubo!

Entrei,
Subi, subi, subi, virei, voltei a subir...,
Atrás e à frente, gente,
Gente por toda parte, ritmo, ordem.
Eu sigo os demais e os demais, quem seguirão?
Outros seguir-me-ão a mim certamente.
Certeza porém de que seguem para casa.
Mudam as caras, mas o semblante é o mesmo,
Até as caras parecem as mesmas,
Parecem esconder todas as mesmas angustias,
Os mesmo traumas, problemas, chatices,
Foram assaltados...
Que esperavam, vieram para a cidade, e aqui é assim.
Ó cidade, culpada, tu que roubas a vida às pessoas, para sobreviveres.
Deixar-te é esquecer, é parar por um breve instante…
É viver!

no name!


Perguntem-me o nome desta rua, e não saberei responder...
Sei apenas que sigo o meu caminho em direcção ao Banco de Portugal.
Sigo, nesta rua em que o meu olfacto é transformado no meu guia, sei que estou aqui e não em outro qualquer lugar de Lisboa.
Estou na rua do cheiro a bacalhau. Talvez um dia venha a saber o nome desta rua, mas sinto que de momento me consigo orientar bem sem saber o nome da dita.
Se personificada fosse, não saberia como a ela me dirigir, mas saberia certamente ainda que de olhos fechados, se ela por mim passasse.
Limito-me a saber quando por ela passo que estou ali, ansioso por chegar à praça do municipio e ser dono do meu nariz

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

As criancinhas lixam tudo...

Acabo de ouvir esta maravilha no Telejornal da RTP1.

Uma tipa qualquer está a fazer uma reportagem em Óbidos, onde a selecção nacional irá estagiar. Nessa reportagem, a entrevistadora faz umas perguntas a um puto que está a brincar na rua...

Entrevistadora: Olha, qual é o jogador de que gostas mais?
Puto: O Figo!
Entrevistadora:Porquê?
Puto: Porque joga futebol.
Entrevistadora:E como é que ele joga?
Puto: Ora, com os pés!
...

quinta-feira, fevereiro 12, 2004



Camarada Odete Santos, pela manhã...

Um estudo inspirador...

Caros leitores – se é que há alguém com paciência para ler esta merda toda – este gajo escreve muito, raios partam o moço!
Retomando, caros leitores, o assunto desta crónica é, uma vez mais, sério e merecedor de uma profunda reflexão…
Há pouco tempo, li num livro que houve uma estudiosa norte-americana - pergunto-me quem mais se dedicaria a estudar isto... - que chegou à conclusão de que os casais que partilham os seus gases vivem mais tempo e reclamam-se felizes até morrerem.
Claro que, com esta notícia, fico radiante porque confirma uma intuição que tinha desde que me iniciei nestas lides do peido e do traque: bufar é bom, e como tal faz bem ao ego. Alimenta o espírito e alivia o stress e a tripa!
Mas agora ainda há outra coisa a considerar: bufar sustenta uma relação e fortalece-a – desde que não se abuse na toxicidade do gás, digo eu.
Através da intimidade que esta actividade libertadora proporciona – e dificilmente conseguirei lembrar-me de actividade mais íntima do que um belo e sonoro bufar debaixo dos cobertores, quando estamos enrolados à nossa parceira – o casal atinge a harmonia e a felicidade em conjunto.
Parece que já estou a imaginar, depois de um repasto no McDonalds, rico em molhos e em tudo menos vitaminas e proteínas, o casal regressa ao aconchego do lar. Nos estômagos as substâncias químicas e artificiais começam a borbulhar, as barrigas a inchar, e de repente: "querida, depressa, vamos para a cama que eu estou a sentir que hoje vai haver festa da grossa!"
O regabofe e a rambóia tomam então conta da cama, sem que haja qualquer actividade pecaminosa – acho que o João Paulo II ainda não considerou herege a prática da bufa – e o casal ri à gargalhada com os estrondosos barulhos e inefáveis cheiros dos traques dados em conjunto.
E eu nem quero imaginar o que será um ménage ou mesmo um swing nestes moldes!

Pelo sim, pelo não, já comprei a minha máscara de oxigénio...

jvoc@gawab.com

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Cidade Abandonada!!


andei, por ruas
passei, por praças
corri aqui,
fugi dali,
acolá parei.
Senti, cheirei, ouvi, deixei de ouvir, cheirei novamente.

Cruzei-me com gentes, apoiei-me nelas,
Observei-as, fui observado...

fechei os olhos por breves instantes,
ouvi,
Deixei de ouvir,
ouvi-me,
abri os olhos...
onde estou??
Algures na cidade,
Não me ouço,
Tudo acontece em meu redor,
Tudo corre.

Que fará aquela pessoa parada?
Porque não corre?
Porque não anda?
Que estará ela a ver?

O mesmo que eu, quem sabe!?
Cidade, minha,
Tua
Deles,
Nossa,
Daquela pessoa.

Para onde irão todos?
Que caminhos seguem?
Estarão cá amanhã?
Voltarei eu a ver-te...
agora que te abandono?

Fecho a porta do meu carro.
Sigo pelas tuas ruas,
Mas não te oiço,
Não te vejo,
Vejo apenas os outros,
Metidos nos seus mundos,
Que estarão eles a ouvir?
Eu oiço-os, fazem barulho,
Não me deixam ouvir-te,
Estás algures,
Silenciada pela tua própria vida,
Pára!!!
Deixa-me ver-te, ouvir-te, sentir.
Deixa-os partir antes de mim.

Não!!
Estarias morta...
Estarias abandonada,
Não serias tu,
Serias outra cidade qualquer
Que não a minha.

De volta à folha em branco.

O esforço esgota-me, mas o descanso que se segue provoca um estranho vazio, uma ausência de referências.
E agora? Que se segue? O que fazer com este tempo que antes era fugaz e agora teima em passar?
Pela ignorância continuo a questionar vezes sem conta as mesmas repetidas dúvidas, sempre na expectativa de um dia ter uma resposta que satisfaça e cale estas vozes curiosas que não me deixam descansar.
Talvez a vida seja isto mesmo. Um ciclo em que as respostas surgem com o vagar próprio da aprendizagem dando lugar a novas interrogações.
Quais são mesmo as perguntas, ou as dúvidas que me assolam a mente?
Ah! Se eu soubesse! Apenas me lembro vagamente que um dia as tive. E agora?
Agora tenho tempo para pensar se dúvidas tive e, fico atento a uma nova direcção, a um novo caminho onde me reencontre. Procurar! Procurar! Procurar!
Procurar-me sem saber se terei um dia o prazer de me voltar a ver. Quase como um bom amigo que saiu para ir comprar cigarros...
Mas eu n fumo, pelo menos sempre fui muito peremptório em não o fazer, nunca achei piada à repetição de um gesto. Aliás lembro-me de não aceitar facilmente o fumo alheio...
Bom! Nisso não devo ter mudado, não a esse ponto. Admito que o exemplo de um possível escape sob a alçada da compra de uns cigarros não foi o melhor...
Talvez o jornal... hum!!!, também não. Não tinha por hábito comprar o jornal.
Acabemos com estas comparações idiotas que não levam a lado algum.
Não admira que eu me tenha perdido, sou um divagador nato, é-me fácil falar, falar, falar, falar, falar, falar, falar..., caio n repetição, caio na repetição.
Ecos de mim próprio que teimam em inovar!
Às vezes encontro-me, para novamente me perder, começo a acreditar que apenas me encontro quando estou perdido.
Excelente raciocínio, és muito bom, boa, continua. Para dizer isto é preciso algum curso?
Verdadeira “la palissada”. Só me encontro se estiver perdido. Para encontrar é necessário perder!
Será isto, mesmo verdade?
Sem duvida alguma que não posso encontrar sem ter perdido. Terei então encontrado algo que não me pertencera? É possível.
Posso então encontrar-me sem que isso implique o prefixo “re”. Na busca do eu posso encontrar o Eu.
Continuo sem saber o que me trouxe aqui. Olho à volta! Não vejo ninguém. Procurar-me-ei?, ou aguardo o vislumbre de alguém?
De onde estou à linha do horizonte, que se esconde para além daquele “prédio”, n vejo ninguém.
Onde terão ido? Onde foste tu que eu não te vejo? Onde estarei eu?
Onde estaremos nós?
Talvez tenhamos ido apenas comprar cigarros.
Mas nós não fumamos. Pelo menos acredito que não fumo, e tu fumarás?
Olho mas não quero ver, e fico na ignorância, imagino algo que talvez não exista nem tão pouco existirá, esperançoso que um dia voltes, que estejas a fumar e me digas.
Fui apenas comprar cigarros.

eles andem ai!!!

ele há gajos, que escrevem, escrevem, escrevem, e pensam q estão a dizer alguma coisa com interesse, pois continuam a escrever, escrever, escrever, escrever.
podemos encontrar temas como compras, papel de embrulho, cartão, transportes públicos, u gives the fuck!?!?!
escrevem sobre o quotidiano banal, e vão chamando aquilo, crónica.
a "crónica de uma morte anunciada" é o que é.
cuidado, não vá esse dito cronista, convencer-vos a assinar alguma petição, pior ainda, transformar-vos em assíduos leitores de palavras aleatoriamente atiradas ao espaço cibernético.
esperemos um tempo mais, para lhe tecer uma crítica. neste periodo, façam qualquer coisa de útil, casem-se tenham filhos, comprem uma casa, esqueçam o papel de embrulho. mais tarde ou mais cedo a evolução acontece. até lá, sentem-se.